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domingo, 24 de setembro de 2017

CERCAS E MURALHAS


         Erguemos, em torno a nós, muralhas de gelo e fogo, na vã tentativa de nos proteger da “dor da vida”, da dor e das dificuldades do viver e conviver.   Abrigados também por essa muralha, permitimos a entrada e permanência das pessoas que mais amamos e tudo aquilo que compõe nosso “mundinho”, tudo que nos “garante” felicidade.
         Dentro dessa muralha, protegidos, nas também aprisionados, buscamos nos defender do mundo hostil de fora, do mundo diferente e ameaçador, com o “fogo” de nossa raiva, de nossa não aceitação, com nosso repúdio, nosso rancor, nosso revanchismo, nossa sede de “justa vingança”...  E lutamos para afastar, expulsar e destruir, tudo que sentimos nos ameaçar.
          Às vezes, preferimos nos defender com “muralhas de gelo”, que nos isolam e preservam. Criamos, então, uma camada de indiferença, de distanciamento, de forçada ignorância por justificada impotência, que alimenta nossa insensibilidade com o mundo “de fora” – outras pessoas, em outras realidades, outras culturas, outras ideologias... E tão distantes nos mantemos, que suas necessidades, suas ideias, suas dores, sua humanidade, muito pouco nos tocam. Transformam-se em “pessoas difíceis”, em números, estatísticas, notícias, em temas de teorias e estudos acadêmicos... Sem sentir, vamos perdendo o foco do que nos une – nossa humanidade!
         O medo, a raiva, nosso orgulho, nossa vaidade, nossa arrogância, nossa prepotência... são os tijolos que constroem essas muralhas.  Essas muralhas que nos “protegem”, mas nos apequenam  e aprisionam .  Trancadas e cercadas de muros altos, as pessoas se escondem e definham, até dentro de casa, da própria família!... Não importa com que material (fogo ou gelo) nos defendemos dessa forma dos outros – estaremos nos isolando...
         Nesse mundo tão aguerrido, num momento tão agressivo e confuso, como abrir mão dessas defesas?  Definhar ou ousar viver? Viver é encarar os desafios das diferenças. Elas nos trazem o desequilíbrio das certezas, mas ampliam nosso olhar, nossa mente, nossos corações... Não podemos, ou não conseguimos, ainda, abandonar nossas muralhas e sair de forma ilógica, de peito aberto, para a “selva de fora”, mas podemos ir substituindo as muralhas que aprisionam  pela construção paciente e firme de nossas pequenas cercas.
         Elas organizam nossas relações, resguardando nossa unicidade e individualidade, mas nos deixando livres para comunicar honestamente quem somos, o que aceitamos a cada momento e livres  para fazer nossas escolhas,    Cercas que não impeçam nosso olhar e nossa escuta, simples  e abertos, em nosso contato com o mundo, com os outros. Cercas que não impeçam nossa identificação com suas alegrias e suas dores.  Cercas que nos garantam espaço para nos fortalecer e experimentar a coragem que irá anulando nossos medos e nos permitindo, com simplicidade e firmeza, honrar nossos limites, garantindo nossa possibilidade de amar.

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