Pesquisar este blog

terça-feira, 6 de maio de 2014

SOBRIEDADE


         Quando abri mão dos “calços” que me sustentavam, premida pela necessidade de me livrar da dor e do horror ao sentir que eles me acorrentavam e afundavam cada vez mais, tomei consciência que todas as dificuldades, os meus desequilíbrios, interiores e anteriores, continuavam comigo! Tirei minhas escoras, mas como então me equilibrar? Abstinência pura e simples, sem a busca dessas resoluções internas, certamente me levaria a buscar novas escoras, novos disfarces, novas dependências, porque ainda era a mesma pessoa confusa e fragilizada que não aprendera a caminhar.

            Precisava sentir uma força diferente, amorosa e respeitosa, que me acompanhasse até que eu conseguisse tomar pé e me erguesse para uma nova vida. Entendi que “Só eu posso fazer a minha caminhada, mas não posso sozinha!” Entendi que precisava da força que me era oferecida por um Poder Superior, presente em mim e no respeito amoroso de meus companheiros. Agarrei-me a essa força generosa e consegui desfrutar daquela calmaria depois de tantas tempestades. Mas, finalmente, entendi que, já refeita, não devia ficar ali acomodada (e encalhada!) ainda que, já agora, em águas mansas. Precisava continuar...

            Todas as crenças equivocadas que me coagiam e me mantinham acorrentada na agonia de cumpri-las, meus sentimentos tão dolorosos, desconhecidos ou amordaçados, as atitudes de agressão e/ou submissão, a baixa auto-imagem... Tudo continuava comigo e doía ainda mais porque estava em abstinência de meus aditivos/anestésicos! Precisava cuidar de mim e a saída era buscar também nutrição e força em Minha Própria Fonte! Precisava continuar...

            Minha Luz Interior, tão escondida e bloqueada, ainda assim, me impelia a seguir em busca da liberdade e da alegria de uma Luz Maior.
A abstinência nos livra dos monstros que nos acorrentam aos porões escuros de nós mesmos, mas só nosso esforço e nossa boa vontade poderão abrir os cadeados dessas prisões interiores. Como “Portadores da Luz”, somos impelidos a seguir, a buscar sempre a libertação, a buscar a Sobriedade.

            Mas, o que é estar sóbrio?
Ser e Estar sóbrio NÃO É estar sério, carrancudo, mal humorado, arrogante, controlador, vaidoso de um saber puramente intelectual, em abstinência total de quaisquer prazeres ou alegrias naturais e humanas, dono de uma “virtude” seca e murcha, distante de sua humanidade e da humanidade das pessoas...
Também NÃO É o estado de euforia, do prazer físico/psicológico/afetivo  exagerado ao desfrutar de sua materialidade no mundo!

            Sobriedade é um estado de equilíbrio, de temperança, de sanidade, que nos traz serenidade e tranqüilidade... mesmo nos momentos de dor ante os desafios da vida.
 A busca contínua de nossa sobriedade passa pela reformulação de crenças que nos cobram impossibilidades, pela escuta e pela capacidade de dar voz aos nossos sentimentos, pelas mudanças de comportamentos. Passa também pela humildade de poder ouvir e sempre aprender, pelo cultivo da auto-responsabilidade e auto-respeito. Passa pela descoberta da compaixão, da generosidade, da verdade, da solidariedade...

No exercício perseverante desses valores espirituais vamos conseguindo desfrutar nossa materialidade sem prisões, compulsões e agonias e avançar para o Despertar de nossa Espiritualidade. Já então, a nós, não basta a sobrevida, porque nos deslumbramos com a descoberta de um novo sentido para a Vida!

 Sobriedade é a serena simplicidade que nos conduz à felicidade.